Cicatrizes da pandemia aceleram o uso da IA generativa nas empresas, diz CEO da FCamara

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Inteligência artificial

O avanço da inteligência artificial generativa nas corporações está ligado à escassez e ao êxodo de profissionais de TI em muitas áreas de negócios. É o que pensa o CEO da FCamara, Fabio Câmara: “Nós tivemos uma transformação digital inorgânica e hiperacelerada em todas as indústrias, devido à pandemia do Covid-19. Isso não foi natural e deixou várias sequelas e cicatrizes”, diz, ao relembrar o problema de 2020 que ainda marca a área de TI, como grandes rodadas de demissões e o afastamento do setor das relações de negócios, deixando o grupo sem voz atuante nas empresas.

“Todo mundo perdeu. Foi uma loucura. As corporações não conseguiam fazer os projetos, ao mesmo tempo que existia uma sede muito grande de estar no digital. Mas, por não ter profissional, as companhias não conseguiam migrar para o digital”, afirma em conversa exclusiva com Mobile Time. “Com essa cicatriz, as outras áreas não querem ficar dependentes da TI. Estão magoadas porque foram preteridas, não foram atendidas e não entregaram possibilidades de resultados enormes”, completa.

Agora, Câmara vê que as empresas estão tratando essas cicatrizes com uma “descentralização das iniciativas de negócios”. Na prática, as companhias começam a investir em “no-code, low-code, dados estruturados e IA generativa” para não depender mais da TI: “A descentralização é positiva. Lógico, os CIOs vão dizer que perderão o controle. Que correm o risco de ataque. Mas veremos mais velocidade nos negócios”, diz.

Em corporações mais avançadas na descentralização, o executivo diz que estão implantando Centros Operacionais de Excelência (COEs), ou seja, um departamento interno para patrocinar, formalizar e ensinar as pessoas a usarem essas tecnologias que reduzem a dependência da TI. Mas acredita que ainda há um caminho para as empresas chegarem nesse patamar, em especial no tratamento de dados.

“A IA generativa precisa de dados. As pessoas acham que hoje é brincadeira, que basta fazer pergunta para o ChatGPT. Estamos ainda longe de termos ganhos produtivos com a IA generativa. Mas sabemos qual caminho percorrer. Ele passa por uma nova organização de trabalho em cima dos dados. Antes de falar que ‘o engenheiro de prompt é a nova profissão do futuro’, vamos cair na real. A profissão do momento ainda é a de cientista de dados”, afirma.

Dentro de casa

A FCamara desenvolveu no último ano um framework de trabalho com inteligência artificial. A consultoria de tecnologia, que ganhou destaque com trabalhos em e-commerce e mais recentemente no open banking, trabalhou em como construir um arcabouço para trabalhar com tecnologia dentro das empresas. Isso passa por criar data lakes, estruturação de dados, bolhas de experimentação, machine learning e NLP. Só depois disso avançam para IA generativa.

Contudo, Câmara ressalta que o objetivo não é a “inteligência artificial pela inteligência artificial”, mas medir e entregar resultados que gerem lucro às empresas. Diz ainda que o framework de IA surgiu pelo fato de que o hype da tecnologia veio, ninguém sabia como usar, as empresas começaram a gastar, mas isso não convertia em transação.

“Aqui na FCamara eu dou o seguinte exemplo: o dado vale R$ 1; mas quando se transforma em informação, vale R$ 10; e quando vira transação, vale R$ 100. Então nós temos que ir atrás dos R$ 100. Não adianta ficar com um conjunto de coisas legais e não mensurar se converte ou não. O foco é na conversão”, acredita. “Estamos fazendo isso há um ano e com mais ênfase nos últimos seis meses (de 2023). Nós conseguimos transformar dados em transações em 40 dias”, completa.

Embora esteja no começo dessa jornada, o executivo cita alguns casos de uso que foram construídos com o framework, como chatbot para seguros, automação de documentos em backoffice de empresa, e o principal deles: uso de IA em exames de imagens.

“Estamos fazendo um case com exames de diagnósticos. 75% das pessoas que pedem socorro ao médico recebem prescrição de remédio e pedido de exame. O paciente toma o remédio, faz o exame, mas não volta ao médico. Estamos fazendo um trabalho com uma grande indústria europeia para alertar o paciente e o médico para não abandonarem o tratamento”, conta.

Iniciativa

Em outra frente com IA, a FCamara se tornou um dos participantes do laboratório de inteligência artificial generativa do Distrito. Batizado como GenAI Lab, o espaço foi lançado em dezembro e começa a funcionar neste mês de janeiro. Com 14 startups, o laboratório busca desenvolver e validar produtos com IA generativa para o segmento corporativo. A iniciativa conta ainda com KPMG e Conta Simples.

“Existem muitas startups fazendo projetos com IA. Mas elas têm um grande problema: a falta de dados. Elas não possuem volume e fonte de dados. Mas, ao juntar o ecossistema, começamos a responder perguntas que as startups possuem e trazendo consistência (no produto/serviço) final”, completa.

Crédito da ilustração no alto: imagem produzida por Mobile Time com IA generativa

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